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O triste destino da Mansão dos Matarazzo


Hoje, como faça aos domingos, fui caminhar pela Av. Paulista. Entrei no Parque Trianon e andei até a Praça Oswaldo Cruz, voltando até a Rua Augusta. Passei pelo cruzamento da Paulista com a rua Pamplona, onde está sendo erguido mais um imponente edifício multiuso, com shopping, escritórios e restaurantes, no estilo de outros que foram construídos recentemente na Av. Faria Lima.

Os mais jovens não devem ter a mínima noção do imóvel que ocupava aquele espaço anteriormente. A Mansão dos Matarazzo. Treze mil metros quadrados que tinham muita história pra contar. É surpreendente o destino do patrimônio público.

A mansão do conde Francisco Matarazzo, um dos principais industriais latino-americanos do começo do século 20, projetada pelos italianos Giulio Saltini e Luigi Mancini, foi construída em 1896. A grandiosa construção tinha 16 salas e 19 quartos e resistiu muito anos ao processo de verticalização de uma das áreas mais valorizadas de São Paulo.

A casa símbolo de uma Era de Industrialização deu lugar a mais uma torre símbolo da pós-modernidade capitalista.

Em 1989, a então prefeita Luiza Erundina tinha o projeto de desapropriar a casa para transformá-la no Museu do Trabalhador, mas os herdeiros tinham interesse em vender um dos terrenos mais caros do país. Para que o lote não fosse desapropriado, a família tentou implodir a mansão, sem sucesso.

Mesmo com as estruturas abaladas, em 1990, o Conselho Municipal de Preservação do Patrimônio Histórico Cultural e Ambiental da Cidade de São Paulo (Conpresp) decide pelo tombamento o casarão. Durante a gestão do prefeito Paulo Maluf, em 1996, ele é, finalmente, demolido. O Instituto de Criminalística, na época, divulgou um laudo constatando que o desabamento foi intencional, uma vez que as colunas de sustentação haviam sido escavadas.

A Cidade de São Paulo perdeu um espaço que poderia servir a população de forma muito mais inteligente, pois abrigaria um museu e um espaço de vista comunitário, do que a construção de mais um prédio com lojas e escritórios, coisa que a cidade já está farta.

Atualmente, na Rua Augusta, um espaço que daria lugar um parque para a população, o Parque Augusta, numa área tão escassa de ambientes públicos, deve dar origem a mais torres de apartamentos. O poder público tem a obrigação de proteger o que resta da memória cultural paulistana.

A questão é muito simples. Parques, museus e espaços públicos, agregam as famílias, dissemina cultura e conhecimento e diminui a brutalidade das grandes cidades. Shoppings, lojas e escritórios são símbolos da pós-modernidade capitalista e geram consumo, trânsito e lixo.

Um modelo de urbanismo inteligente deveria desconcentrar as áreas de trabalho de algumas poucas avenidas e permitir a criação de espaços comunitários, culturais e educativos. Vamos tentar salvar o Parque Augusta? Ainda dá tempo.

Você preferia levar seus filhos para passear num museu instalado na Mansão dos Matarazzo ou no prédio abaixo?


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